COTIDIANO

A vida dá muitas voltas, o passar do tempo que, de forma inexorável corre e nos apresenta todo tipo de dificuldades, com as quais aprendemos e adquirimos experiencia. Via de regra essas experiências ficam gravadas em nossa mente e sempre que situações semelhantes se apresentam tendemos a usar a tal “experiência adquirida”. Isso nada mais é que o simples aprendizado em solucionar de maneira menos traumática os problemas que a vida nos impõe.
Lembro de algumas situações que me vi perdido e sem vislumbrar uma solução com algum grau de razoabilidade e como era de se esperar, fiquei desolado. Sem dúvida, todos nós já vivenciamos situações em que nos sentimos encurralados. Mas o tempo que, de forma geral joga contra, por vezes também joga em nosso favor e as soluções findam por aparecer.
Decorria o ano de 1974, e eu ainda muito jovem me preparava para fazer o temido vestibular, o pesadelo dos pretendentes a uma vaga em umas três universidades existentes à época. Desde criança acalentei o sonho de ser engenheiro. Mesmo tendo, por um período, relaxado nos estudos, resolvi retornar aos livros, recuperar o tempo desperdiçado e perseguir o antigo sonho. Conheci uma jovem estudante que também queria ser engenheira, na época uma profissão pouco comum para mulheres, que me incentivou a voltar aos estudos e ao concluir o curso nos casamos.
Voltei aos livros com renovada esperança e com forca total. Mas por conta do tempo em que releguei os estudos eu precisava de mais tempo do que os outros estudantes, eu precisava aprender o que, teoricamente, eles já sabiam e isso requeria de minha parte mais esforço que o normal. Não me assustei, mas sabia que precisava dedicação total, de esforço hercúleo, afinal era esse o preço do descaso com que tratei os livros por um tempo. Estava decidido a cursar engenharia e encarei o desafio como se fosse uma questão vital.
Eis que chega o temido dia, acordei, nem sei se dormi, nervoso e com medo me dirigi ao local das provas que decidiriam quem iria para a universidade, concluir o curso escolhido e poder dizer, realizei meu sonho, agora sou doutor. Era assim que tratávamos os que concluíam os cursos escolhidos e se formavam.
Tranquilidade era necessário para que o conhecimento adquirido com os livros pudesse fluir, alguns bons candidatos foram traídos pelos nervos e ficaram pelo caminho. Eu tinha muito medo de que isso pudesse acontecer comigo, achava que não aguantaria outro ano como esse. Foi um ano de cão, sem as brincadeiras e as peladas que eu tanto gostava, um ano de estudos diários. O grupo formado por min e mais alguns amigos, optou por estudar a noite e normalmente varávamos a madrugada. Era comum assistir, já muito cansados, o raiar do sol a clarear a escuridão, trazendo mais um dia, aí então íamos dormir para mais tarde começar tudo novamente.
Não lembro bem em que dia, mas acho no último dia de prova, ao terminar fui para casa, mas não sosseguei e passei o restante do dia inquieto, a noite não consegui dormir, angustiado me levantei e me pus a andar por dentro de casa, era tarde e todos dormiam, menos eu. Cansado me sentei no sofá me sentindo perdido baixei a cabeça e chorei copiosamente. Mas um anjo estava à espreita, a tudo assistia e quando me viu de cabeça baixa e angustiado mamãe veio até mim, me abraçou e disse, meu filho levante a cabeça, sei que você fez tudo que podia, Deus reconhecerá seu esforço e se você não conseguir passar não será o fim do mundo, não sabemos os planos de Deus, mas sabemos que são sempre os melhores para nós. Ficamos por um tempo abraçados, eu me tranquilizei e finalmente consegui dormir. Passei no vestibular e cinco anos depois, com muito esforço, me formei, agora já engenheiro percebi que a distância entre o sonho a realidade foi a perseverança e o esforço depreendido, coisa que todos podem fazer, mas que nem todos fazem.

Texto – Jorge Barbosa – Empresário

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