CENTRO, A MORTE ANUNCIADA

O centro do Recife, que antigamente fervilhava com comerciantes, profissionais liberais, bares, restaurantes, turistas e todo tipo de transeuntes, além de moradores, agora, em total decadência e quase sem vida pede socorro. Essa agonia não é coisa recente, é doença que agride de forma lenta e gradual esse moribundo. Ruas vazias, sujas e abandonadas com prédios desocupados e depredados, sem manutenção, repletas de moradores de rua que mais perecem zumbis. Esse é o atual retrato do centro da outrora Veneza brasileira.
Certamente esse fenômeno não acontece apenas em nossa cidade, outros centros maiores e mais ricos, dentro e fora do país, também sofrem ou sofreram desse mesmo mal.
talvez seja reflexo da expansão urbana para outros lados, o surgimento de novos aparelhos comercias como shoppings, legislações que visavam a proteção mas que tiveram efeito contrário, também podem ter sua parcela de contribuição, o encolhimento da economia, o impedimento da circulação de veículos e a falta de locais apropriados para estacionamento, a falta de transporte coletivo adequado, a falta de segurança para os frequentadores e moradores, ou ainda a junção de todos esses fatores e mais outros não citados, sejam os responsáveis por essa falência.
Assim como são muitas as causas desse mal, certamente serão muitas ações para conter o esvaziamento e recuperar a atividade nesse sitio.
Talvez a ocupação do centro de nossa cidade pelo poder público, levando para lá serviços e o atendimento ao público em geral, a liberação do trânsito, a flexibilização do código de ocupação, permitindo a convivência entre novas e modernas construções com prédios históricos devidamente recuperados e ocupados, a restauração dos sítios históricos, a retirada dos moradores de rua, levando essa população para abrigos onde possam ter um teto, alimento e higiene pessoal, identificar e dar a esses indivíduos documento para que possam ir ao mercado de trabalho, dar a eles cidadania, policiamento intolerante com crimes, roubos ou furtos e o endurecimento nas penalidades para quem utiliza dessas práticas, entre outras ações, possam devolver a vida ao local em discussão.
Alguns casos, como o da cidade de Nova York, podem servir de exemplo e penso ser possível aproveitar algumas das soluções adotadas por lá, que se mostraram exitosas. A tolerância zero com a criminalidade surtiu o efeito por eles desejado. É verdade que alguns contestaram essa medida, alegando os excessos cometidos por policiais, mas também é verdade que a queda de crimes contra a vida caiu em torno de 60% e os crimes de forma geral caíram em torno de 45%, não deixando margem para dúvidas sobre sua efetividade.
Esse modelo teve como base a teoria das “janelas quebradas”, desenvolvida pelo cientista político James Q. Wilson e o psicólogo criminalística George L. Kelling. Afirmam os autores que em um prédio com janelas quebradas se faz necessário o reparo delas sob pena de que não fazendo isso a tendência é de que vândalos quebrem outras janelas e até mesmo invadam o prédio, provocando sua decadência e destruição.
Certamente outros centros, além do já citado, devem ter resolvido essa questão, cada um levando em conta suas peculiaridades, porem se socorreram de medidas duras, que em muitos casos foram comuns, usadas por todos que enfrentaram esse grave problema.
A crença que habita o imaginário de integrantes de governos que tratam vândalos como “coitados”, como vítimas da sociedade e por isso não são responsáveis por degradarem os patrimônios público e privado, gerando impunidade e incentivando o crime, nada mais é do que uma forma que se isentar da discussão, em clara contradição com a responsabilidade de soluciona-las, afinal são os governos que administram as sociedades, para isso são eleitos.
Recebi de amigos, proprietários de imóveis e comerciantes, sugestões sobre ações que podem contribuir para que esse local volte a vida.
Recuperação das principais avenidas, onde for possível, sem dificultar a movimentação de veículos e pessoas, construir canteiros centrais arborizados e com abrigos contra sol e ou chuva, além de bancos e ciclovias.
Retirar os ambulantes das ruas, levar o camelódromo e o comercio informal para local apropriado a ser construído ou requalificar local já existente, por exemplo a antiga rodoviária, caso seja possível relocar a atual atividade lá instalada, lembrando sempre que todas essas ações devem ser baseadas em pesquisas e ou outras ferramentas cientificas que possam conferir assertividade as decisões.
Interligar a Dantas Barreto ao Cais José Estelita, rever a lei de ocupação para permitir edificações de grande porte que de forma harmônica conviveriam com as construções históricas, como dito anteriormente.
Rever as divisões hoje existentes nas avenidas Conde da Boa Vista e Guararapes, requalificar logradouros, entre eles a pracinha do diário.
Incentivar a reconstrução dos prédios históricos em situação de ruina, convocar proprietários de imóveis abandonados para que possam recuperar seus imóveis devolvendo a estes sua antiga ocupação ou adaptá-los para nova ocupação.
Criar linhas de financiamento com condições especiais para recuperação ou reconstrução desses imóveis, atuando junto ao governo federal para o enquadramento desses financiamentos em linha especificas e com taxas diferenciadas.

Texto – Jorge Barbosa

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