PRAÇA MACIEL PINHEIRO

Uma homenagem de origem popular para marcar a participação dos pernambucanos na guerra do Paraguai propôs a construção de uma fonte comemorativa.
O lugar escolhido para abrigar esse monumento foi a antiga praça Conde D’Eu, atualmente denominada Maciel pinheiro. Havia no lugar o antigo chafariz imperial, que foi demolido para que ali fosse instalada a nova fonte. Em 13 de março de 1875 fica pronta a montagem da ultima etapa e em 31 de março desse mesmo ano, em meio a grande festa, se inaugura a fonte.
Essa fonte, uma verdadeira obra de arte, foi toda confeccionada em pedra lavrada, pelo artista português Antonio Moreira Ratto. Com quase 8 metros de altura, traz no alto a figura de uma índia munida de arco e flexa a exaltar os nativos brasileiros que lutaram nessa guerra, traz também mascaras, ninfas e tudo isso sustentado por quatro grandes leões, estrategicamente voltados para os pontos cardeais, que como sentinelas espreitam os movimentos ao norte, ao sul, a leste e a oeste.
Essa praça teve, por muitos anos, como vizinha ilustre a escritora Clarice Lispector, que também ganhou uma estátua ao lado da fonte. Nascida na Ucrânia chega ao Recife ainda muito nova, com dois meses de vida, trazida por seus pais, fugindo do antissemitismo que se instalou na Europa.
Assim como a ucraniana Clarice, centenas de famílias judias oriundas do leste europeu, a partir da revolução russa de 1917, vieram parar no Recife e ocuparam o bucólico bairro da Boa Vista, no entorno da praça. Nos finais de tarde alguns desses imigrantes costumavam se reunir fazendo do local um centro de convívio. Ali, em animadas conversa ou acaloradas discussões, falando em sua língua, tratavam da vida entre nós ou relembravam passagens da vida em seus países.
O fato é que nessa praça cheia de história e de monumentos, uma das mais belas praças recifenses, reina hoje o descaso e o completo abandono. Não é mais permitido aos moradores do bairro nem transeuntes sentarem-se em seus bancos, para descansar, apreciar a beleza do local, ou apenas para ver a vida passar. Moradores de rua usam sua fonte como tanque para asseio pessoal e para lavar roupa, alguns fazem ali mesmo suas necessidades fisiológicas. Não fosse isso o suficiente para afastar o povo ordeiro, há ainda os viciados em drogas e todo tipo de pessoas que vivem à margem da lei e da sociedade, que transformaram esse lindo e histórico espaço público em cenário de guerra e quarto de banho a céu aberto.
Em meio a tal abandono padece a fonte secular, que sofre todo tipo de atentado e que vem ao longo do tempo sendo desgastada.
Os atuais frequentadores dessa praça, sem glamour e sem esperança, sem vizinhos ilustres e com pouca expectativa, diferente de tudo que já foi, clamam, apenas, por mais um único dia de vida e talvez por um pouco de dignidade. É preciso um olhar mais tento das autoridades competentes. Não é justo que os atuais frequentadores sejam abandonados à própria sorte, mas não se pode permitir que a história e o patrimônio dos pernambucanos, como acontece com caso em questão, sejam destruídos e jogados na lata do lixo. Não se pode admitir que uma pequena parcela de infelizes tome do povo sua história, sua liberdade e seu direito de usufruir de seu patrimônio.
Texto – Jorge Barbosa – Empresário

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