A VOLTA DA FOLIA

Passados esses dois anos sem poder se esbaldar ou esquecer as durezas impostas pela vida, cair na folia é inevitável e até seria injusto com o folião não poder fazer isso. Trabalhar e sofrer um ano inteiro e não ter uma festa para chamar de sua, para ser irreverente com a vida e devolver a ela, mesmo que só por quatro dias, o pesado fardo da responsabilidade, para o brincante é impensável.
Ser otimista, encarar a vida com seus percalços e complicações como coisas a serem enfrentadas com confiança, achar que de um jeito ou de outro para nós esses desalentos serão mais brandos e superáveis, alivia nossa carga.
Claro que nem sempre é assim, os perrengues virão, queiramos ou não, mas todas as vezes conseguimos saídas airosas. Algumas vezes saímos machucados, outras vezes saímos sem arranhões, mas sempre com o firme propósito de melhorar e isso nos acalma, nos faz mais fortes, nos faz continuar. Com as quedas aprendemos a levantar e a seguir adiante. Tudo isso é coisa para depois, agora é carnaval.
Em tempos de pandemia, certa vez eu disse “eita que os trelosos recifenses não vão poder arrancar o samboque dos pés de tanto frevar”. Graças a Deus isso é passado, agora é carnaval, agora podemos dizer que o recifense vai se avexar para cair na folia, vai arrudiar qualquer obstáculo que o impeça de reencontrar o frevo, não tem munganga e nem aperreio que possa impedir o Treloso folião de tomar umas e muitas outras durante a festa momesca.
As ruas vão ferver ou frever novamente, sei lá, acho que vão frevar e as águas vão rolar, garrafa cheia acho que não vai sobrar, o frevo ensurdecedor que foi calado pelo danado do “vírus”, volta com a gota serena para deixar o folião moco e aluado, que embriagado pelo álcool engarrafado e não mais em gel, se entrega de corpo e alma. Era tudo que lhe faltava e ele agora está no céu.
Sair encangado com um moe de gente, gastar tudo e ficar liso vai ser a tônica, com ou sem Gim, desse retorno, pode ficar arretado, pode fazer pode fazer pantim e pode arengar, mas de nada vai adiantar, a folia tá no sangue, tá na cara, tá porta e veio chamar. Ah e antes que tudo acabe, o brincante vai fazer carreira, vai desembestar, vai cair na farra e vai brincar. É a parte que lhe cabe.
Vai esquecer de tudo quando cair no frevo e depois vai lembrar que, para ele, no melhor da festa chegou à ingrata quarta feira que tão depressa veio só para contrariar e mostrar que a realidade o chama, mais contrariado ainda ele sai do profano, sai da festa, da farra e da folia e entra no cotidiano, coisa que não queria. E tudo volta ao normal.

Texto – Jorge Barbosa – Empresário

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