A GALINHA DE SANTO DOMINGO DE LA CALZADA

Ao chegar ao nosso destino desse dia, seguimos para nosso albergue e nos instalamos. Esse albergue era um prédio que mais parecia residencial, diferente dos que costumávamos encontrar, com quartos simples e duplos e não tinha nenhum apoio, não tinha maquinas de lavar roupa, por isso tivemos que sair pela cidade a procura de locais onde pudéssemos lavar nossa roupa usada.
Encontramos uma loja, em frente a uma praça, com algumas máquinas de lavar e de secar, mas tinha também muita gente a espera para usar as maquinas, inclusive alguns caminhantes. Cada vez que precisávamos usar a máquina de lavar eram precisos 5 ou 6 euros. Feito isso saímos para comer algo e conhecer um pouco da cidade.
Santo Domingo de La Calzada, estava a comemorar seu milésimo ano de fundação. Essa cidade tem uma igreja, que é única no mundo católico, tem uma particularidade autorizada pelo papa. Nessa igreja, em seu interior, existe uma espécie de galinheiro com galinhas vivas durante as celebrações. Isso deve-se a lenda da galinha que levantou e cacarejou, depois de assada e posta à mesa do juiz local.
A igreja estava fechada e a visitação era paga, no entanto no horário da missa era aberta ao público, e resolvemos esperar para assistir à missa e conhecer a igreja. Fomos conhecer a cidade e Hugo, meu sobrinho e caminhante, aproveitou para comprar palmilhas de gel, para pôr em suas botas na tentativa de minorar as fortes dores que sentíamos depois de muitas horas de caminhada. Conhecemos também um parador, hotel luxuoso, e depois fomos em busca de informações sobre locação de bicicletas. Era nossa intenção fazer parte do caminho com elas. Depois passamos em uma torre muito alta onde havia um relógio e muitos peregrino subiam essa torre para apreciar a vista da cidade. não subi, minhas pernas se negavam a fazer mais esse esforço.
Chovia muito e voltamos ao bar onde havíamos comido mais cedo e perdemos a hora da missa. Quando chegamos, a missa já havia acabado, mas estava em andamento o ensaio do coral da cidade que se apresentaria em outro local, por conta da comemoração dos mil anos de sua fundação. Pedimos ao porteiro que nos deixasse entrar e lá ficamos sentados nos bancos a ouvir as músicas. Tirei um cochilo rápido, estava muito cansado. Ao fim do ensaio conhecemos a igreja, vimos as galinhas e voltamos ao bar onde muitos peregrinos estavam se despedindo de uma caminhante que não seguiria até Santiago. Santo Domingo, seria sua última parada, e dali ela voltaria para casa.
Como eu estava cansado voltei para o albergue e Nathália, minha filha e também caminhante, resolveu voltar comigo, os meninos, Hugo e meu filho Leo, ficaram no bar. Mais tarde, por volta da meia noite houve foguetório, mas eu já estava dormindo e não ouvi nada, isso porque alguns bons quilômetros nos separavam de Belorado que seria nossa próxima parada.
A lenda da galinha é um capítulo à parte. Fala da desventura de um jovem alemão de 18 anos, acusado injustamente de roubo pela filha do dono da estalagem, que havia se apaixonado pelo jovem viajante, mas que não foi correspondida.
Esse viajante foi preso e condenado à forca por um roubo que não havia cometido. Fervoroso católico, o jovem rezava para Santo Domingo e mesmo pendurado na forca continuava vivo, foi aí que seus pais correram a avisar o juiz que, por milagre, seu filho ainda estava vivo e pediram-lhe a soltura do rapaz.
O juiz, que estava almoçando, disse aos pais do condenado que seu filho estava tão vivo quanto a galinha assada que estava na mesa. Nessa hora a galinha assada levantou da mesa e cacarejou, e o juiz, espantado com o cacarejo da galinha e convencido da inocência do jovem, juntamente com uma multidão, foi ao local do enforcamento, constatou o milagre e liberou o rapaz. Uma bela história.

Texto – Jorge Barbosa – Empresário/patriot

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