Assuntar a maçaranduba do tempo, expressão que ouvi algumas vezes do governador, era assim que eu o chamava, cujo significado era observar e refletir para opinar ou decidir. Joaquim era assim, um forte, uma maçaranduba que nunca se vergou as tempestades da vida. Um político de linguajar próprio e inconfundível. Sua voz forte e de sotaque interiorano, do qual nunca se afastou, transmitia aos ouvintes clareza de entendimento e segurança. Gostava muito de ouvir suas histórias. Joaquim tinha conhecimento e cultura invejáveis, e tinha total conhecimento dos assuntos sobre os quais falava. Sem dúvida, os muito e importantes cargos públicos que ocupou o capacitaram. Secretário de estado, procurador, prefeito do Recife, governador do estado, ministro e deputado federal constituinte foram cargos ocupados por ele, que nunca se deixou seduzir pelo poder e por seus encantos. Joaquim era bem visto e respeitado por todos e por onde andava era festejado, uma prova inconteste de suas qualidades. Certa vez, Joaquim me disse que morou no palácio por um tempo, e ao perceber que ali tinha tudo ao alcance da mão, resolveu que deveria voltar a vida a qual estava acostumado, e assim fez, voltou para casa. Isso me intrigou e ao perceber minha estranheza explicou que tinha família e que ao fim de seu mandato deixaria o palácio e a boa vida proporcionada aos seus ocupantes, assim era melhor não se acostumar e nem deixar que sua família se acostumasse a uma rotina que teria de deixar e que seus vencimentos não lhe permitiriam manter posteriormente. Deixar o poder, para muitos, pode ser o ostracismo, o esquecimento, mas não foi assim com Joaquim Francisco. Nunca trocou sua consciência, suas convicções por favores ou cargo, todos que o conheciam sabiam de suas posições e mesmo entre contrários havia o respeito e admiração pelo homem publico que sempre foi. O machado da morte, que não poupa nada e nem ninguém, trazido pela doença, fez sucumbir a maçaranduba que era Joaquim Francisco, que parafraseando Getúlio Vargas, saiu da vida e entrou para a história. Tristeza é meu sentimento, se foi mais uma sombra do conhecimento, do caráter e do bem querer, o Brasil ficou mais pobre, perdeu um dos grandes brasileiros, Pernambuco também ficou menor e eu perdi um amigo.
